Risco x Retorno
Risco x Retorno
Quem não arrisca, não petisca
(Sua vó)
Quase todos os conceitos básicos de finanças podem ser traduzidos num ditado popular, e esse é o da vez. Para cada nível de petisco, existe um nível de risco.
Essa é a relação mais básica que todo investidor, por menor que seja, tem a obrigação de saber:
Quanto menor o risco, menor o retorno esperado.
ou
Quanto maior o retorno que você espera, maior o risco que você terá de correr.
Retorno é o quanto você ganha num investimento.
Ex.: investiu R$100 e no fim de um ano tem R$200. O retorno foi de R$100.
Risco é uma medida de incerteza. Um investimento tem risco elevado quando você tem muita incerteza sobre onde o preço dele vai parar. O risco é baixo quando o pagamento é muito previsível.
Na prática: o que isso influencia na hora de escolher onde investir?
“Então vou colocar tudo em coisas com pouco risco! Quem é louco de correr risco?”
Não! Claro que não. Risco é bom.
“Então escolho algo arriscado?”
Não! Não só. A gente mistura os dois. Se só colocar em coisa de pouco risco, vai perder boas oportunidades de crescer. Se colocar tudo em investimentos arriscados, você provavelmente não vai aguentar o tombo quando eles derem errado.
A idéia é que a sua carteira de investimentos tenha investimentos conservadores (pouco risco) e uma parte de investimentos arrojados (muito risco).
Uma dieta equilibrada tem que pôr tudo no prato: Feijão, arroz, carne e salada.
Tipos de Risco
Esses são os principais tipos de risco que você tem que ter conhecimento:
Risco de Crédito
É o risco de emprestar dinheiro e levar um calote.
Risco de Mercado
É o risco de variações dos preços no mercado. Preços de ações (variação de valor das empresas), preços de títulos (ou seja, variação das taxas de juros), preços de moeda (câmbio), preços das coisas que você consome (inflação).
É o risco que você mais vai perceber quando estiver investindo em ações. (Sim, você vai investir em ações!!!).
Risco de Liquidez
É o risco de você não conseguir vender um ativo assim que quiser. (Ou seja, de não conseguir se desfazer de um investimento quando precisa de grana).
É por causa desse risco que comprar um imóvel – pensando como um investimento – é um tiro que pode sair pela culatra. Especialmente em crises, quando todo mundo precisa de dinheiro, vender um imóvel às pressas pode te levar a grandes perdas.
Quem tem pressa de vender um imóvel pode terá que abaixar muito o preço do imóvel até que apareça alguém afim de comprá-lo.
Risco de investir sem conhecer os riscos
Esse é um risco que pouca gente comenta, mas é um dos piores. Ok, você não precisa ser o profissional de finanças, só tem que se fazer algumas perguntas:
Quanto eu posso ganhar? Quanto eu posso perder?
Esses pagamentos fazem sentido quanto ao resto do mercado? Desconfie de propostas mirabolantes.
De onde vem o rendimento desse meu investimento? Dinheiro não sai da cartola. Se você investe em ações de uma empresa, por exemplo, é interessante saber o que essa empresa faz da vida.
Enfim, dê um google no que você vai investir, coisa simples, não precisa muito.
Como diminuir os riscos?
Não coloque todos os ovos no mesmo cesto
(Sua avó, de novo)
Não to dizendo? O mundo das finanças é cheio de ditados populares. Uma das formas mais comuns de diminuir os riscos é diversificando seus investimentos. Assim, a perda de um tipo de investimento pode ser compensada com o ganho de outro investimento.
E como dissemos anteriormente, misturar investimentos de diferentes níveis de risco é essencial pra fazer uma carteira de investimentos parrudona.
Um exemplo simples de carteira de investimentos
Ok, vamos finalmente a um exemplo comum, razoável, de como montar seu investimentos do zero:
Comece fazendo uma reserva em renda fixa bem conservadora. Vá juntando dinheiro em Tesouro IPCA para a sua aposentadoria e numa carteira digital para a sua reserva de emergências.
Quando juntar alguma grana: digamos, R$ 10.000, comece a investir em ETFs ou ações de empresas consolidadas.
E então uma proporção razoável numa carteira de investimentos seria:
60% em baixo risco: Renda Fixa conservadora, mirando o longo prazo, como o Tesouro Direto;
35% em médio risco: Renda variável, como ETFs, FII e ações de empresas consolidadas;
5% em alto risco: Renda variável, como operações de curto prazo com ações, operações estruturadas com opções, criptomoedas.
Isso não é uma regra, foi só para te mostrar um exemplo razoável.
Dúvidas sobre esses nomes?
Sem problemas! Foi só para dar uma palinha sobre esse mundo dos investimentos. Nos próximos capítulos a gente explica esses conceitos com muito mais detalhes e exemplos práticos.
Resumo
- Cada investimento tem um risco diferente,
- Quanto maior o retorno que você espera, maior o risco que você terá de correr,
- Você precisa dormir tranquilo com o risco que você assumiu, e
- Quando a esmola é demais, o santo desconfia
Extras
Teste #1: Você pagou R$100, qual opção você prefere?
- Ter 10% de chance de ganhar R$1.000 (e 90% de chance de não ganhar nada)
- Ter 100% de chance de ganhar R$100
Resposta correta:
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Não existe resposta correta!
Inclusive as duas opções têm a mesma esperança de ganho: R$100. Veja só:
- 10% de 1.000 + 90% de 0 = 100
- 100% de 100 = 100
Fica tranquilo com as continhas. Foi só uma figura para ilustrar uma coisa:
Existem diferentes níveis de risco
Se você é mais conservador, prefere a opção B.
Se está afim de arriscar, pode abrir mão do que é mais garantido na opção B e apostar na opção A.
E não é apenas uma questão de “estar afim de arriscar”. Mas de se você tem segurança para aguentar um cenário ruim.
Teste #2: Para quem você emprestaria?
Imagine só: dois amigos seus estão precisando de R$1.000 cada um, por motivos pessoais que você não quis perguntar. Ambos prometeram te pagar mês que vem.
- Um deles, Ananias, é um cara tranquilo, quase não gasta com cerveja, tá terminando a faculdade, mas sabe como é… gastou um pouco demais no mês passado. Você confia no Ananias. Você confia tanto que nem cobraria juros, ficaria bem de boa.
- Já Bernardo é bem seu amigo, vocês sempre tão juntos nas festas, mas… você sabe que ele é um cara descontrolado. E que ele acabou de sair do emprego. E que ele tem fama de “esquecer” de pagar. Inclusive você lembrou que ele tá te devendo!!
Ficou óbvio que dá menos dor de cabeça emprestar para o Ananias (opção A).
– Ok, eu te pago 1500 no mês que vem! – te diz Bernardo (opção B).
Tá certo que você não é agiota e que isso é ilegal, mas… a oferta agora ficou um pouco mais tentadora. Vai que ele paga mesmo? Você ganha 500 daqui a um mês.
Apesar da oferta: será que ele vai te pagar? Emprestar para o Ananias ainda é uma opção menos arriscada.
O mecanismo dessa regra: princípio da não arbitragem
Imagine dois investimentos: A e B. Você deposita R$50 hoje, e qualquer um dos dois promete te pagar R$100 daqui a um ano. Só que A é muito mais arriscado que B.
Qual você vai? Óbvio que o menos arriscado: B!
Só que você não é o único esperto: todo mundo escolhe o B.
O vendedor desse investimento, vendo que todo mundo escolhe B, pode falar:
“Eu tô cobrando barato. R$50 e todo mundo quer investir em mim. Vou aumentar o preço pra R$70!”
E as pessoas continuam comprando muito! E o vendedor do investimento pode continuar aumentando o preço, até que as pessoas fiquem indiferentes entre consumir A ou B.
Afinal de contas, A é mais seguro, mas agora paga pouco. B é arriscado, mas paga muito.
E essa é uma ilustração do princípio da não arbitragem. Mas você não precisa gravar esse nome, é só uma curiosidade que economista gosta de contar.